Com as mudanças econômicas, políticas, sociais ocorridas nos últimos anos, as mulheres ingressam cada vez mais rápido e em grande número no mercado de trabalho, além de assumir a chefia da família, sendo imperativo delegar a outras pessoas os cuidados e educação dos sue bebês. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher, no Brasil, o total de famílias formadas por casais com filhos e chefiadas por mulheres cresceu de pouco mais de 200 mil, em 1993, para 2,2 milhões em 2006. Como alternativas para essas mães surgem às creches oficiais, a “creche familiar” (alguém que usa sua própria casa para tomar conta de crianças), as babás, os familiares. No entanto, quais são os efeitos desde muito cedo os bebês e crianças em idade pré-escolar serem cuidadas por outras pessoas? Qual impacto da cultura mais ampla terá sobre o sujeito?Quais os ganhos e prejuízos?
A escola como uma instituição social, que muitas vezes reflete a cultura dominante, abarca esta gama complexa de diferentes culturas. Quando o espaço educativo é palco das discussões pautadas no respeito e compreensão às diferentes culturas resulta num ganho pedagógico imenso, em contra partida, quando ela elege uma cultura como ideal em detrimento às outras geram conflitos e tensões trazendo danos emocionais ao aluno.
Helen Bee (2003) relata as pesquisas atuais em relação aos efeitos das creches no desenvolvimento cognitivo das crianças, embora levassem em conta algumas variantes como a qualidade da creche, o ambiente e o atendimento dispensados aos bebês.
E quanto o impacto na personalidade infantil? O exame sobre os cuidados dados fora do lar, diferem. Alguns pesquisadores, a exemplo de Anderson (1989, 1992) e Scarr e Eisenberg (1993) encontraram nos seus estudos que criança de creches são mais sociáveis, mais comunicativas e lidam melhor com seus pares.Já as observações de John Bates(1994) concluiu que as crianças que permaneciam mais tempo nas creches, nos anos posteriores apresentaram agressividade e menos populares com os colegas .Porém, Bee salienta que os níveis de agressividade de uma criança pode ser atribuído ao temperamento e as técnicas disciplinares dos pais e se as creches contribuem de alguma forma com esse quadro é um sinal de alerta.
Baseado em investigações, Helen Bee delineou as características ideais de um ambiente de creche e pré-escolas:
▪ Uma proporção de adultos baixa em relação ao número de crianças e como dispositivo de proteção contra abusos ter no mínimo dois adultos em cada sala ou dois adultos para cada grupo de crianças ou bebês.
▪ Grupos pequenos de crianças ( as com mais idade, 15 a 20 por grupo) e bebês ( 6 a 8 por grupo).
▪ É importante, principalmente para os bebês, a baixa rotatividade da equipe de trabalho.
▪ Ter um ambiente colorido, seguro, limpo, acolhedor e adaptado para a criança brincar. Não precisa possuir brinquedos caros, mas ter uma rotina com atividades interessantes que estimule a ato de brincar.
▪ Um planejamento diário que explicite alguma estrutura, uma intencionalidade pedagógica.
▪ Uma cuidadora positiva, afetuosa, comprometida e responsável e com certo conhecimento sobre desenvolvimento infantil.
Portanto, é necessário um olhar cuidadoso no que diz respeito a escolha da escola/creche responsável pelos primeiros anos da criança,pode ser um forte fator para problemas futuros.
Pares como modelo
Uma menina que mora nos Estados Unidos embora pertença a uma família árabe, fala inglês fluentemente sem sotaque, ainda que em casa, com seus pais, só fale árabe. Sua família é mulçumana, mas seu vestuário em nada se parece com as roupas e véus da mãe, que conserva os costumes milenares de sua cultura, como cobrir a cabeça em público, recolhesse a cozinha com a chegada de algum estranho (mesmo sendo mulher)à sua casa. Sua filha usa jeans, fala como as crianças americanas de sua idade. Suas irmãs mais velhas dirigem automóveis, conversam com os que visitam sua casa.
Esse episódio torna-se cada vez mais comum, já que muitas vezes o individuo fica exposto à padrões, valores e hábitos diferentes de sua família e um dos agentes transmissores da cultura são seus iguais, Diante dessa conjuntura, Mussen(1888) afirma: “Outras respostas ‘adquirida em casa’ podem ocasionar o ridículo, ostracismo social ou maus-tratos por parte de outras crianças;estes comportamentos serão modificados.” O poder dos pares como agentes socializadores varia de cultura para cultura, já que algumas estimulam as crianças a interagir com as outras, o que torna inevitável a influência. Contudo em outras culturas às crianças tendem a confiar mais nos adultos, o que diminui a probabilidade de serem influenciada por seus colegas.
Geralmente essa interação dos colegas surge a partir da idade de quatro anos, a qual aumenta ao longo do tempo, “a necessidade de estar junto e brincar com as outras crianças mais ou menos da mesma idade.”(MUSSEN,1888)Dessa forma a criança aprende a se identificar com os de sua idade perdendo um pouco a identidade com os pais à medida que aprendem a lidar com hostilidade e dominação, além de dividir problemas, conflito e sentimento pode ser consolador.
O impacto da comunicação de massa
Os meios de comunicação são transmissores fieis de cultura , em especial a televisão ,por ser a preferida e mais usado pelo público infantil. Hoje ,segundo pesquisa realizada
Pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no Brasil, uma criança permanece 3 horas e 31 minutos por dia em frente à telinha. Em seguida, vêm as americanas, que passam 3 horas e 16 minutos. O estudo foi realizado em nove países (Brasil, Estados Unidos, Indonésia, Itália, África do Sul, Espanha, Reino Unido, França e Alemanha) e identificou que a televisão continua sendo uma fonte fundamental de entretenimento para as crianças, mas o tempo em que elas passam em frente à tela varia muito de um país para outro.
Diante de tanta exposição, Mussen (1888) fez o seguinte comentário: “As crianças podem aprender comportamento agressivos e pró-sociais da televisão”, como também aprendem estereótipos sociais a respeito de homens, mulheres, dos idosos, de grupos étnicos e até das próprias crianças, criando uma visão distorcida da realidade, atendendo aos interesses da cultura dominante. Tomemos como exemplo aqui na Bahia, um dos estados de maior população negra, entretanto visualizamos na tela o personagem típico: branco, classe média, jovem. Raramente aparecem na televisão crianças e pessoas idosas e as minorias geralmente estão ausentes da tela e quando surgem são retratados de forma desfavorável.
No que se refere ao desenvolvimento cognitivo assistir televisão em demasia, interfere nas habilidades de leitura, pelo menos nos primeiros anos escolares (Mussen, 1888), contudo diferente do senso comum as crianças não são receptoras passivas e sim, processadoras ativas, porque desde cedo fazem escolhas sobre o quando, como e o que assistir com atenção. As produções animadas, de movimentos e com recursos audiovisuais são atrativos para prender-lhes a atenção, pensando ativamente em tudo que vêem.
Carina Gomes
O TAL DO ERRO
Há 13 anos
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